Nunca
mais
A
tua face será pura limpa e viva
Nem
teu andar como onda fugitiva
Se
poderá nos passos do tempo tecer.
E
nunca mais darei ao tempo a minha vida.
Nunca
mais servirei senhor que possa morrer.
A
luz da tarde mostra-me os destroços
Do
teu ser. Em breve a podridão
Beberá
os teus olhos e os teus ossos
Tomando
a tua mão na sua mão.
Nunca
mais amarei quem não possa viver
Sempre,
Porque
eu amei como se fossem eternos
A
glória, a luz e o brilho do teu ser,
Amei-te
em verdade e transparência
E
nem sequer me resta a tua ausência,
És
um rosto de nojo e negação
E
eu fecho os olhos para não te ver.
Nunca
mais servirei senhor que possa morrer.
Nunca
mais te darei o tempo puro
Que
em dias demorados eu teci
Pois
o tempo já não regressa a ti
E
assim eu não regresso e não procuro
O
deus que sem esperança te pedi.
[Sophia de Mello Breyner Andresen, 1919-2004]
[Sophia de Mello Breyner Andresen, 1919-2004]
[Vídeo:
Um Poema por Semana | Ideia
- Paula Moura Pinheiro >>> | Voz - Rita Loureiro | RTP2, 2011]
Sem comentários:
Enviar um comentário