[…]
Mopsos habituara-se a ouvir as histórias do mar,
as suas cóleras e a sua bondade. Informado pelos versos dos aedos, ele
construía a sua própria ideia. Imaginava uma extensão roxa e sombria onde os
cavalos de Poseídon galopavam. Era muito famosa a descrição das ondas como
crinas quando a muita velocidade arrancava dos seus dorsos uma espécie de
branca cabeleira. […]
Mas, afinal, o mar não tinha a aparência que
Mopsos concebera nos serões do solar. O dos poemas, era como a mãe, escuro e
fascinante. «Cor de vinho», cantavam os aedos, e habitado por uns seres alados
que davam pelo nome de sereias e chamavam os homens para a morte.
O mar real, aquele mar de Delfos que Mopsos
avistava para além do manto de árvores que cobria a longa encosta de tons de
verde, esse emitia claridade. O seu azul podia ser usado para pintar as túnicas
dos deuses. A sua superfície parecia um outro céu, ainda mais brilhante que o
brilhante céu grego. Mas o facto de se achar perto dos pequenos seres mortais
conferia-lhe uma espécie de doçura e ele acenava como se se enternecesse, com
minúsculas ondas cuja espuma brilhava como um cinto de diamantes. Aqui e além,
um barco balouçava, numa quietude de criança ao colo. «Este é então o mar?»,
perguntou Mopsos. E, ao ver como Íris lhe sorria, pressentia que havia entre
ela e as águas qualquer coisa, que o azul circulava sem parar entre os seus
olhos e o fundo da paisagem. […]
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