Leituras | John Steinbeck, A Pérola | Lê Abílio Santos
[...] Mas
a música da pérola vibrava triunfantemente dentro de Kino. Juana ergueu os olhos
para ele e os seus olhos abriram-se diante da coragem de Kino e da sua
imaginação. Tinha-o penetrado uma energia electrizante, agora que derrubara os
horizontes. Na pérola via Coyotito sentado a uma carteira numa escola como a
que Kino tinha visto um dia através de uma porta aberta. E Coyotito tinha um
casaco vestido, e um colarinho branco e uma larga gravata de seda. Além disso,
Coyotito estava a escrever numa grande folha de papel. Kino olhou para os
vizinhos, orgulhosamente:
-
O meu filho há-de ir à escola - disse, e fez-se silêncio entre os vizinhos.
Juana conteve a respiração. Os seus olhos brilhavam ao fitá-lo, e baixou
rapidamente o olhar para Coyotito, para ver se aquilo seria possível.
Mas
a profecia brilhava no rosto de Kino.
-
O meu filho há-de ler e abrir os livros, e o meu filho há-de escrever e
conhecer a escrita. E o meu filho há-de fazer números, e essas coisas hão-de
libertar-nos, porque ele há-de saber, há-de saber e nós havemos de saber
através dele.
E
na pérola Kino viu-se a si próprio e a Juana acocorados junto do fogo, dentro
da cabana, enquanto Coyotito lia um grande livro. [...]
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