18 abril 2013

Leituras | Alberto Caeiro, [Ao entardecer, debruçado pela janela,]



Leituras | Alberto Caeiro, [Ao entardecer, debruçado pela janela,] | Lê Abílio Santos

Ao entardecer, debruçado pela janela,
E sabendo de soslaio que há campos em frente,
Leio até me arderem os olhos
O livro de Cesário Verde.

Que pena que tenho dele! Ele era um camponês
Que andava preso em liberdade pela cidade.
Mas o modo como olhava para as casas,
E o modo como reparava nas ruas,
E a maneira como dava pelas coisas,
É o de quem  olha para árvores,
E de quem desce os olhos pela estrada  por onde vai andando
E anda a reparar nas flores que há pelos campos...

Por isso ele tinha aquela grande tristeza
Que ele nunca disse que tinha,
Mas andava na cidade como quem anda no campo
E triste como esmagar flores em livros
E pôr plantas em jarros...





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