14 março 2013

Romance de Vila do Conde | José Régio



[…]
Vila do Conde espraiada
Entre pinhais, rio e mar!
— Lembra-me Vila do Conde,
Mais nada posso lembrar.

Bom cheirinho dos pinheiros…,
Sei de um que quase te vale:
É o cheiro da maresia,
— Sargaços, névoas e sal —
A que cheira toda a vila
Nas manhãs de temporal.
Ai mar de Vila do Conde,
Ai mar dos mares, meu mar!,
Se me não vens cá buscar,
Nenhum remédio me vale,
Nenhum remédio me vale,
Nem chega a remediar…

Abria, de manhãzinha,
As vidraças par em par.
Entrava o mar no meu quarto
Só pelo cheiro do ar.
Ia à praia, e via a espuma
Rolando pelo areal,
Espuma verde e amarela
Da noite de temporal!
Empurrada pelo vento,
Que em sonhos ouço ventar,
Ia à praia e via a espuma
Pelo areal a rolar…

Espuma verde e amarela
Das noites de temporal,
Quem te viu como eu te via,
Se te pudera olvidar!
E ai não me posso curar,
Nenhum remédio me vale,
Se te não tenho nos braços,
Se te não posso beijar…

Vila do Conde espraiada
Entre pinhais, rio e mar…
— Lembra-me Vila do Conde,
Passo a tarde a divagar…
[…]



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