28 fevereiro 2013

Leituras | Máximo Gorki, A Mãe



Leituras | A Mãe, Máximo Gorki | Lê Abílio Santos

Uma noite, após o jantar, depois de correr as cortinas das janelas, Pavel sentou-se num canto e pôs-se a ler, com o candeeiro de petróleo suspenso na parede, por cima da cabeça. A mãe, depois de lavar a louça, saiu da cozinha e aproximou-se com o passo hesitante. Ele levantou a cabeça e olhou-a com ar de interrogação. 
- Não é nada, Pavel... Sou eu - disse ela - e afastou-se vivamente, com a testa enrugada e um ar de confusão. Ficou um momento imóvel, no meio da cozinha, pensativa, preocupada; lavou as mãos cuidadosamente e voltou para junto do filho.
- Queria-te perguntar - disse, baixinho - o que é que estás sempre a ler?
Ele pousou o livro.
- Senta-te, mãe.
Sentou-se pesadamente ao lado dele e endireitou-se, atenta a qualquer coisa de grave. Em voz baixa, sem a olhar, adoptando, não se sabe porquê, um tom rude, Pavel começou a falar.
- Leio livros proibidos. Proíbem de os ler, porque dizem a verdade sobre a nossa vida de operários... São impressos clandestinamente, e se os encontrarem cá em casa metem-me na prisão... na prisão por eu querer saber a verdade. Estás a compreender?
Ela sentiu subitamente dificuldade em respirar e fixou no filho um olhar espantado. Pareceu-lhe mudado, estranho. Tinha uma voz diferente, mais baixa e mais cheia, mais sonora. Torcia, com os dedos afilados, o pêlo fino dos bigodes de adolescente, e o olhar estranho, sob as pestanas, perdia-se no vago. O medo e a inquietação pelo filho penetraram-na.
- Porque fazes isso, Pavel? - murmurou.  
Ele ergueu a cabeça, olhou-a rapidamente, e sem levantar a voz, tranquilamente, respondeu:
- Quero saber a verdade. 

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